Falar de Emoções

FALAR DE EMOÇÕES

Escolhi começar o ano a falar de emoções porque ao fazer o clássico balanço de final de ano não tive vontade de fazer resoluções de ano novo, mas sim de celebrar as conquistas do ano que ali terminava. E ao fazer isso constatei que uma das ferramentas ou mais valias, se quisermos dar um nome mais adequado, deste meu último ano, foi sem dúvida o facto de ter sabido lidar com as minhas emoções de uma forma diferente, consistente e mais consciente. Então, porque não partilhar esta informação por forma a outras pessoas poderem usar estes instrumentos de desenvolvimento pessoal para seu próprio benefício?

O que é uma emoção?
O dicionário define emoção como “uma agitação ou perturbação do espírito, sentimento, paixão; qualquer estado mental excitado ou vigoroso”; “sendo uma resposta automática, intensa e rápida, inconsciente e/ou consciente, perante um estímulo e um impulso neuronal que leva o organismo a produzir uma ação”.

Emoções Básicas: Apesar da existência de emoções agradáveis e de emoções desagradáveis, todas estas emoções podem ser emoções básicas, bastando, para isso, que sejam inatas, geneticamente programadas e se mostrem essenciais para a sobrevivência do organismo. As emoções básicas são íntimas, pois não existe controlo da vontade em sentir devido ao facto de estas serem predeterminadas pela psicofisiologia.

Emoções Básicas

Alegria
Felicidade, prazer, alívio, contentamento, satisfação, delícia, divertimento, orgulho, prazer sensual, excitação, êxtase, agrado, euforia, gratificação, bom-humor, arrebatamento, entusiasmo e no extremo, mania. A alegria é uma das emoções básicas que é ativada por acontecimentos favoráveis, afetando os indivíduos de forma direta ou indireta. Os termos felicidade, satisfação, otimismo, contentamento e prazer surgem, muitas vezes, como sinónimo de alegria.

Amor
Aceitação, amizade, confiança, bondade, afinidade, devoção, adoração, fascinação, ágape.

Surpresa
Choque, espanto, assombro, admiração.

Tristeza
Dor, pena, desânimo, desalento, melancolia, autocomiseração, solidão, abatimento, desespero, e quando patológica, depressão profunda. A tristeza é outra emoção básica e está relacionada com perdas significativas, perdas cujo significado é grandemente valorizado pelo indivíduo que sofre a perda. É uma das emoções mais duradouras, sendo vários os tipos de perdas que podem provocar esta emoção, por exemplo: a rejeição de um amigo; a perda de admiração por outro; a perda da saúde; a perda de alguma parte do corpo ou função, por acidente ou doença; e, para alguns, a perda de um objeto precioso. Alguns sinónimos para esta emoção são: perturbado, dececionado, abatido, desanimado, desesperado, desamparado e miserável.

Medo
Ansiedade, apreensão, nervosismo, preocupação, consternação, receio, precaução, aflição, desconfiança, pavor, horror, terror, como psicopatologias fobia e pânico. O medo é uma das emoções básicas que está associada ao perigo e tem a função de proteger os indivíduos de determinados riscos que possam ocorrer. O objetivo e a função principal da emoção medo aparenta ser o de proteger a integridade física e psicológica da pessoa, motivando-a para se libertar ou fugir de situações potencialmente temíveis.

Ira/Raiva
Fúria, ultraje, ressentimento, cólera, exasperação, indignação, acrimónia, animosidade, aborrecimento, irritabilidade, hostilidade, talvez no extremo, ódio e violência patológicos. A raiva é uma das emoções básicas que está relacionada com a frustração devido à não concretização de objetivos desejados pelos indivíduos. A raiva é uma reação acompanhada de pressão sanguínea aumentada, batimentos cardíacos acelerados e um aumento de determinadas hormonas, como a adrenalina, que impulsionam para uma ação vigorosa.

Aversão
Desprezo, desdém, troça, repugnância, nojo, desagrado, repulsa.

Vergonha
Culpa, embaraço, desgosto, remorso, humilhação, arrependimento, mortificação e contrição.

Funções das Emoções

As funções da emoção encontram-se ligadas à adaptação e à expressão, funcionando como estímulo entre a conduta e o meio.
A emoção é, por isso mesmo, uma variável multidimensional que tem despertado um grande interesse no meio científico e suscitado um aumento crescente no número de investigações científicas à sua volta.
As emoções podem ser essenciais ao bem-estar psicológico e à qualidade de vida dos indivíduos e desempenham, ainda, um papel importante nos estados de saúde, uma vez que contribuem para a saúde e para a doença através das suas propriedades motivacionais. Graças a esta propriedade motivacional, as emoções têm a capacidade de modificar os comportamentos saudáveis, tais como o exercício físico, a dieta equilibrada, o descanso, etc., o que leva muitas vezes à adoção de comportamentos específicos por causa delas.
Neste sentido, as emoções que causam bem-estar são consideradas por alguns investigadores como sendo emoções positivas, pois são as emoções que a pessoa busca constantemente, enquanto as emoções que provocam mal-estar e constrangimento são consideradas emoções negativas, sendo aquelas que os indivíduos tentam evitar e que não gostam de sentir.
Apesar das emoções serem antigas no processo evolutivo, são uma componente essencial nos mecanismos de regulação vital, pois são parte integrante do mecanismo através do qual o corpo humano regula a sua sobrevivência.
As emoções têm um papel ativo, juntamente com outros mecanismos, na regulação interna e constante do corpo.
Para que um organismo viva, é imprescindível que mantenha as condições mínimas necessárias, como é o caso da temperatura do corpo e da concentração de oxigénio no sangue, que são aspetos fisiológicos nos quais as emoções também intervêm. O propósito da regulação emocional é manter reguladas as emoções, pois se forem excessivamente intensas e se se prolongarem mais do que necessário, estas desequilibram a estabilidade do indivíduo.

Mais factos sobre as emoções:
• as emoções estão relacionadas com um acontecimento externo e parecem surgir quando algo inesperado ocorre;
• as emoções podem ser inatas, geneticamente determinadas ou aprendidas como uma combinação de emoções básicas;
• a avaliação cognitiva é crucial para o entendimento de como as emoções ocorrem;
• as emoções são acompanhadas de reações fisiológicas e habitualmente são expressas através da mudança na expressão facial;
• as emoções podem ser divididas em dois grupos: aquelas que envolvem fuga, recuo ou comportamento negativo (emoções negativas) e aquelas que envolvem atração, aproximação ou comportamento positivo (emoções positivas);
• as emoções focam e direcionam a atenção para algo que possivelmente é grandioso e selecionam o que é mais importante naquele momento;
• preparação para a ação, ou seja, as emoções servem de catalisador entre o meio e a nossa conduta;
• contato com certas experiências emocionais, que vão originar uma aprendizagem emocional útil para lidar com situações futuras;
• ajudam na regulação da interação.

Emoção versus Sentimento

Sentimento, segundo o dicionário é: ato ou efeito de sentir; aptidão para receber as impressões; sensação; sensibilidade; consciência íntima; faculdade de compreender; intuição; perceção; pesar; paixão; desgosto; pressentimento.
Podemos dizer então que os sentimentos são estados e reações que o corpo humano é capazes de expressar diante dos acontecimentos que os indivíduos vivenciam.
Estas reações ou estados são algo comum a todos os seres humanos e podem ser manifestados tanto para acontecimentos recentes quanto para algo que seja revivido por meio de lembranças ativadas pela memória.

Gerir as Emoções
Uma das melhores formas de nos mantermos saudáveis, serenos e felizes é aprendermos a gerir as nossas emoções; existem diversas formas de o fazer e são com certeza todas bastante eficazes, no entanto a mais eficaz é sem dúvida o autoconhecimento. É a observação e a consciência.
Através do autoconhecimento, podemos conhecermo-nos melhor, entender como nos sentimos e, a partir disso, ter consciência sobre o que se passa na nossa mente e como isso afeta nossa vida.
Tendo consciência dos nossos hábitos e pensamentos, é possível identificá-los como bons ou prejudiciais e trabalhar para que eles sejam mais ou menos frequentes e poderosos. Uma pessoa com mais entendimento sobre seu interior poderá usar isso para se desenvolver e evoluir.
Uma pessoa consciente de si mesma e dos seus pensamentos consegue identificar as suas forças e fraquezas e trabalhar com foco para se desenvolver constantemente.

O autoconhecimento é um processo que tem como objetivo identificar padrões de pensamento e hábitos pessoais e, a partir disso, permitir que se consiga melhorar as nossas respostas comportamentais e tomadas de decisão. O autoconhecimento começa dentro da mente e reflete-se no exterior, mudando positivamente a forma como percebemos o mundo e reagimos a diferentes situações.
Através de exercícios, podemos compreender melhor nossos objetivos e desejos e, a partir disso, traçar planos mais eficientes para alcançá-los. E, além disso, é possível também controlar pensamentos e hábitos destrutivos e evitar que eles tenham impacto negativo na nossa vida.
Em termos pessoais ajuda-nos a entender como o nosso comportamento, habilidades e emoções podem auxiliar-nos a alcançar os nossos objetivos pessoais.
Em termos profissionais está intimamente ligado à carreira e às expectativas que se criam em relação ao percurso que queremos fazer nesse âmbito.

Outra ferramenta muito útil que temos ao nosso dispor é a Inteligência Emocional. A inteligência emocional prende-se com a capacidade que temos de compreender e gerir as nossas emoções e obter benefícios pragmáticos, ou seja, obter uma melhor cooperação entre pessoas e aproveitar o melhor que cada um possui.
Acreditamos que, como seres humanos em constante transformação, podemos ser felizes em todas as situações e não apenas quando deixamos o nosso trabalho ao final do dia. Devemos saber usar certas competências como: a autoconsciência; a autogestão; a motivação; a empatia e por último as competências sociais. Os psicólogos usam o palavrão “metacognição”, para se referirem a tomada de consciência das próprias emoções.

Goleman (2014, 56ª ed.), refere que inteligência emocional é a capacidade de reconhecer os nossos próprios sentimentos, os de outros, motivar e lidar adequadamente com os relacionamentos que mantemos com os outros e com nós mesmos.
Recentemente inteligência emocional é definida como sendo a habilidade das pessoas e o processo deliberado, que requer esforço para assistir e perceber os sentimentos, de maneira adequada e precisa, a capacidade para assimilar e entendê-los de uma maneira adequada e a capacidade de regular e modificar nosso humor ou o de outros voluntariamente.
De acordo com Daniel Goleman, a parte anatómica do cérebro que suporta a inteligência emocional é o último circuito do cérebro a tornar-se adulto. De acordo com a neuroplasticidade, o cérebro molda-se com as experiências vivenciadas. Afinal, quando a inteligência emocional é posta em prática torna-se benéfica.

Aguarde pela segunda parte deste tema para ler dicas práticas sobre como gerir as suas emoções.

Obrigada por ter lido até ao fim. Se tiver comentários ou perguntas envie um email ana.cecilia.autora@gmail.com

Este artigo teve inspiração nos livros “Outra Forma de Ver as Coisas”, “Inteligência Emocional” de Daniel Goleman, “O Erro de Descartes” de António Damásio e nos artigos “What do I want to feel? Emotion goal in childhood, adolescence, and adulthood” Lopéz-Pérez, B., Gummerum,M., Jiménez,M. e Tamir,M.; “Using emotion to guide decisions: the accuracy and perceived value of emotional intensity forecasts” Carlson,S.J.,Levine,L.J., Lench,H.C, Flynn,E., Winks,K.M.H., Winkckler,B.E.

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